JÚNIOR OLIVEIRA
Njilas

Njilas

Njilas é uma viagem ainda em trânsito. É o nome que demos ao resultado artístico das pesquisas realizadas pelo LABORSATORI, no projeto Numes do Nome, em sua fase aguda de criação. Quando um cortejo de mênades aportou em nossa sala de trabalho. É também uma discreta atualização do mito trágico das Bacantes, sob influência dos batuques africanos que enriquecem a fome antropofágica brasileira. E quando juntamos Grécia e África num mesmo terreiro, é natural perceber o parentesco discreto entre as Tríades e Pomba-Gira.

Na tradição de Angola, Pambu Njilas é o nome de uma divindade que funciona como agente de ligação entre a dimensão física e a dimensão mística da existência. De modo similar a Hermes, da cultura grega antiga, é Pambu Njila que autoriza todo trânsito entre este e o outro mundo. Trânsito entre alteridades.

Como enfatizou o estudioso Jean-Pierre Vernant, a própria religião cívica de Atenas só podia garantir soberania sobre a população grega, graças a sua capacidade de reservar um lugar, em seu seio, para o culto de mistérios cuja aspiração e atitude se lhe parecia estranha a seu espírito. Este foi o caso, por exemplo, dos cultos e rituais dedicados a Dionísio, deus considerado estrangeiro.

Talvez sua própria experiência marginal, de exilado, tenha sido significativa para que Eurípedes, o mais humanista dentre os poetas trágicos, tenha se dedicado com considerado afinco à escrita de As Bacantes. No Brasil de hoje, o mote dessa tragédia pode encontrar similares repercussões. A condição marginal, à qual muitos grupos sociais são submetidos ou mesmo a misoginia que as mulheres ainda enfrentam, são temas facilmente identificados nas entrelinhas da poética bacante. Além disso, a própria situação das crenças e rituais de origem africana, no seio de nossa sociedade, pode ser equiparada à condição do dionisismo na polis grega.

Ficha técnica

Direção: Alexandre Nunes
Texto: Luciana Lyra, com a colaboração de Alexandre Nunes
Atuação: Renata Weber, Gabriela Lima, Eduardo Teixeira, Clarice Duarte, Aline Isabel, Alessandra Almeida
Trilha sonora eletroacústica: Eduardo Néspoli
Trilha sonora acústica: Noel Carvalho
Cenografia: Wagner Carvalho
Iluminação: Júnior Oliveira
Figurino: Cláudio livas
Design gráfico: Alexandre Nunes
Participações especiais: Diego Amaral, Flávia Honorato, Lorena Fonte, Noel Carvalho, Vinicius Bolivar
Produção executiva: Arte Brasil