Émile Jaques-Dalcroze.

Émile Jaques-Dalcroze.
Junior Oliveira
Émile Henri Jaques (Jaques-Dalcroze) foi um músico, ator e pedagogo, nascido na Áustria no ano de 1865 e falecido em Genebra no ano de 1950. Mudou-se para Genebra na Suíça quando tinha apenas 6 anos, pois seus pais eram de origem suíça. Em Genebra “Dalcroze frequentou o colégio, o ginásio e logo ingressou no curso de Letras da Universidade de Genebra. Ao mesmo tempo em que estudava literatura, entrou no Conservatório de Música de Genebra, onde estudou piano” (ANDRADE, 2005, p21). Dalcroze teve duas grandes vocações que foram a arte dramática e a música. Sua mãe era professora de música e desde muito cedo, dentro do seio familiar, Dalcroze teve contato diariamente com a música. Sob a orientação de sua mãe revelou um talento especial para o piano. No ano de 1883 fez a opção de estudar direção e arte dramática, e no ano seguinte, 1884, iniciou seus estudos. No mesmo ano, vai para Paris onde estuda técnicas de atuação com os integrantes da Comédia Francesa. “Notamos que de uma forma ou de outra, estas duas tendências artísticas permaneceram durante todo o percurso do seu trabalho como exemplo na parceria perfeita feita com Adolphe Appia” (ANDRADE, 2005, p21). No trabalho de Dalcroze uma questão conflituosa se apresentará ao longo dos anos de sua pesquisa, que é a relação entre a música e as artes cênicas. “E este paralelismo entre ritmos musicais e os ritmos corporais estará sendo posto em cheque a todo momento, por vezes encontrando os pontos de convergência, por outras apontando as especificidades de cada um” (ANDRADE, 2005, p22).
Após sua formação em arte dramática Dalcroze retorna para Genebra e volta a dedicar-se novamente aos estudos sobre música. Inicia em 1887 estudos sobre composição, órgão e piano. Ao fim dos anos de aprendizagem, e em pleno domínio de seus estudos em piano, atuação, direção, canto, composição e poesia, Dalcroze retorna à Suíça após uma breve passagem pela Argélia, onde a convite do compositor Ernest Adler, dirigiu a orquestra de um teatro local. Neste período ele teve contato com a música Árabe, com seus ritmos irregulares e diversos. “Ele mais tarde escreveu que foi durante a sua breve carreira de diretor (referindo-se ao cargo na Argélia) onde descobriu que o gesto e a música devem estar integrados“ (ANDRADE, 2005, p 24).
De volta à Suíça, Dalcroze “assume, após o falecimento de Hugo von Senger o cargo de professor de harmonia do Conservatório de Genebra“ (ANDRADE, 2005, p 24). Neste período em que professa harmonia no Conservatório de Genebra percebe em seus alunos uma deficiência na aprendizagem da música. Assim, começa a elaborar um método de ensino que mais tarde denominará de Ginastica Rítmica. No período que decorre entre os anos de 1903 e 1910 Dalcroze cria a Ginástica Rítmica ou simplesmente Rítmica – como encontramos denominada em diversos estudos -, objetivando uma educação musical para a juventude. Porém, tratava-se de um sistema musical de ensino inovador e, em decorrência disto, o maestro sofre a resistência de uma ala conservadora do Conservatório (ANDRADE, 2005, p 24).
Esta resistência ao Método de Dalcroze foi duramente aplicada pela ala mais conservadora da escola de Genebra e pela sociedade local, como podemos ver: Os pés descalços, os braços descobertos e sobretudo a nudez das axilas provocavam interjeições de espanto e repulsa, e quase conduziram Dalcroze para o banco dos réus se não fosse um documento assinado por 35 pessoas influentes, entre artistas, médicos, professores e psicólogos, que atestava a salubridade das lições de Rítmica. Os estudos expressivos do corpo puderam seguir adiante, mas sob a supervisão das autoridades eclesiásticas, o que provocou sentimentos de cólera em sua irmã (MADUREIRA, 2008, p54).
Depois de sua saída do Conservatório, Dalcroze dedica-se a desenvolver seus estudos com um grupo de jovens estudantes voluntários. Passou então a divulgar seu método por várias cidades e Países. Estes estudantes/discípulos de Dalcroze tiveram êxito em conferências e demonstrações do Método em várias cidades da Alemanha: Em outubro de 1909 Dalcroze faz uma demonstração, com alguns alunos treinados por ele em Eurritimia, em Dresden. Nesta plateia havia um homem de 32 anos, rico e bem-sucedido, chamado Wolf Dohrn. Este homem, que havia estudado economia, era o secretário geral de uma organização dedicada a desenvolver e promover as artes de iluminação para as indústrias alemãs. Encantado com o trabalho de Dalcroze [...] conectando-se intimamente à filosofia da Rítmica, Dohrn faz um convite para que Jaques- Dalcroze viesse a dirigir um centro de Rítmica em Hellerau (ANDRADE, 2005, p25).
Dalcroze muda-se para Hellerau, um vilarejo pertencente a cidade de Dresden – Alemanha. Funda o Instituto de Ginastica Rítmica de Hellerau. O instituto tem grande atividade até o seu fechamento repentino em 1917 em decorrência da primeira grande guerra. Jose Rafael Madureira, em sua dissertação Émile Jaques-Dalcroze: Sobre a Experiência Poética da Rítmica, discorre sobre a importância da Rítmica na dança. Alerta para a inexistência de tradução dos textos originais de Dalcroze, apesar da intensa evocação em teses acadêmicas no Brasil. Isso, certamente, é um elemento de dificuldade para a pesquisa, pois, como se lê: (2008)
A referência à sua pessoa e à sua obra limita-se ao formato enciclopédico – notas de rodapé – que em nada contribuem para o entendimento estético filosófico de seu pensamento. Se não bastasse a insuficiência de dados concretos, as citações apresentam-se num conjunto de informações vagas e contraditórias (MADUREIRA, 2008, p3).
Dessa forma, a pesquisa sobre Dalcroze e sua Rítmica, fundamental para aprofundar o estudo do espaço cênico de Appia – objeto central deste trabalho – foi possível apenas através de textos acadêmicos, afirmando-se um exercício bastante dificultoso. Entre estes textos, a tese de Madureira se mostrou de suma importância para obter informações sobre a relação existente entre eles e o impacto do encontro verificado na obra de ambos. Appia foi parceiro de Dalcroze desde os primórdios de seus estudos sobre a Ginástica Rítmica, participando de vários projetos do Festspielhaus Hellerau. A interferência de Dalcroze em Appia é inegável e precisa ser trazida para o presente trabalho, para que se tenha um bom resultado na análise do espaço cênico proposto pelo último. Diante desta difícil tarefa, fez-se necessário expor uma breve notação histórica sobre Jaques-Dalcroze, como fizemos, a fim de melhor identificá-lo e situá-lo historicamente; e, posteriormente, se tratando especificamente da presente pesquisa, facilitar a apresentação de seu método de ensino musical, a Rítmica, possibilitando a verificação das relações estabelecidas entre seu método e os estudos elaborados por Adolphe Appia sobre os espaços rítmicos
O MÉTODO
Segundo Ana Lúcia Iara Gaborim Moreira, em seu trabalho acadêmico, Método de Dalcroze, Educação Musical para o Corpo e a Mente; o Método de Jaques-Dalcroze se divide em três partes: a Eurritmia, o Solfejo e a Improvisação. Os alunos que se desenvolvem nessas três áreas teriam condições de se tornarem bons músicos, o que para Dalcroze consiste em: possuir percepção auditiva, sensibilidade nervosa, sentido rítmico que seriam os sentidos das relações existentes entre tempo e espaço, e a faculdade de exteriorizar estas as sensações. Essas qualidades poderiam se desenvolver de forma potencializada na própria prática, afirmando que a música está dentro do indivíduo, sendo parte de seu organismo (2008).
No concurso de suas investigações, Dalcroze organizou um sistema de relações entre a música e a gestualidade, uma espécie de solfejo corporal, denominado como Plástica Animada (Plastique Animée). O solfejo sempre ocupou um lugar preponderante na educação musical da criança como instrumento eficaz para fazê-la perceber a duração dos sons, os intervalos harmônicos, as escalas e tonalidades. Enquanto o solfejo tradicional educa os olhos e ouvidos numa leitura fluente, a Plástica Animada, ao incitar o corpo em sua inteireza, conduz à percepção física dos elementos constitutivos da arte musical, quais sejam o ritmo, a melodia e a harmonia. Ao serem realizados em grupo, os estudos de Plástica Animada poderiam traduzir toda complexidade de uma obra sinfônica, seus jogos de polifonia e contraponto. Cada componente musical encontra no corpo uma possibilidade de expressão (MADUREIRA, 2008, p71).
No entanto, neste trabalho não abordaremos sobre Solfejo e Improvisação, somente sobre a Rítmica, que é a parte que nos implica quanto ao trabalho realizado por Adolphe Appia. Dentro do Método de Dalcroze a Rítmica é formulada como um processo de aprendizagem musical a partir da percepção corporal, estimulando a percepção de tempos, movimentos e escalas rítmicas. “Corpo humano é a fonte de todas as ideias musicais e que o movimento afeta a percepção musical [...] enfatiza a importância de desenvolver a sensibilidade em primeiro lugar, para depois expressar os elementos da música” (MOREIRA, 2003, p10). Apliquei-me em inventar exercícios destinados ao reconhecimento da altura dos sons, à mensuração dos intervalos, à investigação dos sons harmônicos, à individualização das diversas notas dos acordes, ao acompanhamento dos desenhos contrapontísticos das polifonias, à diferenciação das tonalidades, à análise das relações entre as sensações auditivas e as sensações vocais, ao desenvolvimento das qualidades receptivas do ouvido e – graças a um novo tipo de ginástica que se destina ao sistema nervoso – à criação, entre o cérebro, o ouvido e a laringe, de correntes necessárias para fazer de todo o organismo aquilo que poderíamos denominar como ouvido interior (JAQUES-DALCROZE apud MADUREIRA, 2008, p72).
Dalcroze afirmava que toda compreensão do aprendizado musical poderia ser realizada através de estímulos ou de uma representação corporal, tais como: altura, intensidade, movimento, acorde, tonalidade, harmonia, estruturas musicais como frases, períodos, etc. Todos esses conceitos poderiam ser constituídos através de estímulos e intenções dados aos movimentos, tanto em sentidos horizontais como verticais, tanto isolado como em grupos, tanto introspectivos como expandidos. A junção da memória auditiva e da expressão corporal, por meio de movimentos coreográficos simples e exercícios rítmicos, pode formular os meios de desenvolver e aprender os conceitos elementares da música. “Dalcroze propôs e elaborou a exploração de vários modos de aprendizagem: auditivo, cenestésico e visual. Introduzia a leitura de partitura tardiamente e estimulava que fosse deixada de lado” (SILVA, 2008, p40). “A experiência sensorial deve preceder o pensamento intelectual, e da mesma forma a prática deve sempre anteceder a teoria, preceito oposto aos paradigmas da educação musical de sua época” (MOREIRA, 2010, p10).
Os sentidos e as percepções incorporadas nos alunos por meio dos exercícios rítmicos corporais poderiam fazer com que o aluno desenvolvesse melhor sua aprendizagem da música. Suas aulas de Rítmica eram elaboradas em grupos, faziam movimentos corporais, caminhavam em linhas retas ou em círculos, em direções opostas ou similares, alternando tempos e espaços. “O movimento corporal é o fator essencial para o desenvolvimento rítmico do ser humano e a execução de ritmos corporais contribui para o desenvolvimento da musicalidade. Na prática, é pelo movimento corporal que se toma consciência do valor plástico do ritmo”. (SILVA, 2008, p39)
Portanto, para compreendermos o processo desenvolvido por Dalcroze com a Rítmica, necessitamos entender que o movimento corporal passa a ocupar um lugar de destaque, onde a música muda de elemento final para se tornar um meio a se chegar. No desenvolvimento da Rítmica aprende-se com música e movimento, fala e movimento, e também com o emprego de diversos objetos e materiais, mas é primordial o entendimento de que o aprendizado musical passa, na Rítmica, necessariamente, pela compreensão interiorizada da música no corpo, pelo “ouvido interno” (grifo meu), como denominou Dalcroze.
Obs..: Todo material de pesquisa se encontra listado no post parte 01.
Obs2. : as citações não esta formatadas segunda a normal ABNT. não sei configurar texto, rs no wordpress. rs